Correspondências entre Europa e America

Part.1

Londres, 22 de janeiro de 1943

Querido Oliver

 “Desculpe a pressa e o mau jeito que lhe escrevo, mas não há outro modo de dizer, estou me mudando para a América. Eles nos descobriram, assim que for seguro lhe enviarei meu novo endereço.”

Sempre sua,

Adela


Berlin, 30 de janeiro de 1943

Querida Adela, 

“Essa noticia me pegou de surpresa, desculpe estar escrevendo novamente, mas me tomo de esperança de você ainda estar em Londres e receber esse meu bilhete. Meu coração não se inquieta de preocupação. Assim que seguro me mande mais noticias. [...]”

Com todo o amor do mundo, 

Oliver.


Atlantic City, 10 de junho de 1943

Oliver, 

“Perdoe-me por todo esse tempo sem lhe escrever, foram tempos difíceis, ficamos dias sem nada para comer amontoados em uma casinha perto do cais de Londres, e somente dia 22 de abril embarcamos para a America. Foi uma viagem exaustiva e fatigante. Nesse tempo todo emagreci 15 quilos, estou quase que irreconhecível, não gostaria que você me visse nesse estado, quase nenhuma roupa minha me serve. [...]”
“[...] Não sei por quanto tempo ficarei aqui em Atlantic City, mas logo lhe enviarei noticias.
Não sei não pensar em ti ter,

Adela


Part.2 


Berlin, 22 de junho de 1943

Amada Adela, 

[...] “Eu não tinha mais sossego, procurei a tanta forma noticias suas, mas eu não podia me arriscar e te ariscar indo a Londres, porque sabiam que eu iria a seu encontro e com certeza me seguiriam e te achariam. Meu coração está em frangalhos, não vejo a hora de isso tudo acabar para nós podermos ficar juntos, e por mais que você estivesse irreconhecível, eu te reconheceria, mesmo que meus olhos não te vissem meu coração te mostraria a mim, não sei se você receberá essa minha carta.” [...]

Eternamente seu, 

Oilver



Atlantic City, 1º de julho de 1943

Oliver, 

[“...]” Sua carta muito que me alegrou me perdi em suas palavras, Aqui há um clima da calmaria, meu pai com um nome falso arranjou emprego, mesmo que aqui não somos perseguidos o medo é grande. Mas essa calmaria me dá medo e fico apreensiva com a possibilidade de alguém nós ter seguido até aqui e está esperando um momento para nos surpreender. Me lembro de quando abandonamos Budapeste, e viajamos quase toda a Europa oriental procurando abrigo, depois que vimos que isso de nada adiantava , partimos para Horserod , onde decidimos ir para Londres. Em nossa breve passagem por Berlin, você nos ajudou a fugir e eu me apaixonei . De um grupo de 15 pessoas , só restaram eu e papai , nessa nossa peregrinação por nossa liberdade.”[...]

Aguardo sua resposta, 

Adela.


Londres/Berlim, 15 de julho de 1943

Amada Adela, 

[...] Tive que me retirar para Berlin, bem no meio do olho do furação. A saúde de meu pai não está nada bem, e temo sua morte. Teremos que tomar mais cuidado com nossas correspondências, porque aqui em Berlin somos alvos fáceis, e também há camaradas me seguindo. Os negócios de minha família vão mal, nos últimos tempos papai deixou tudo na mão de funcionários de honestidade duvidosa. Tenho quase certeza de que meus estudos em Londres vão ficar em segundo plano, e vou ter que assumir os negócios de minha família. [...]. Não tema minha amada, o pior já passou você e vosso vai já estão forra da Europa, e com isso tudo se ajeita, você vai poder perceber [...]

Ps. Mande suas cartas, endereçadas aos cuidados de Mr. John Stoclken.

Oliver.



Part.3


Memphis, 30 de julho de 1943

Mr. Jonh Stoclken/ Meu amado Oliver, 

Nós mudamos de cidade, papai arranjou uma colocação melhor, por algum motivo o patrão de papai não nos persegue e admira nosso povo. Eu sinto muito pelo seu pai, mas não posso desejar de todo meu coração que ele se recupere, e você sabe muito bem disso, mas não vamos falar de mágoas antigas, de perseguições. [...]” Em meu aniversario, papai pretende reunir em nossa casa alguns de nós, mas isso só vai depender de nossa sorte. Meus 18 anos estão chegando.”[...]

Loucamente sua, 

Adela.


Berlin, 09 de agosto de 1943

Adela, 

Papai morreu. [...] Meus estudos em Londres, não existem mais, tenho que assumir o mais rápido que possível os negócios de minha família. São tempos difíceis aqui, espero que sua vida ai na América tenha valido a pena, e, por favor, pare com essa mania de perseguição. Aí é a America [...], terra de oportunidades, eles nunca iriam te reconhecer.

Oliver.


Wichita, 07 de setembro de 1943

Mr.Jonh Stoclken

“Oliver, eu não compreendi a sua grosseria comigo, me perdoe por falar o que sempre falo [...], achei que com a noticia de meus 18 anos você ficaria feliz, assim já tenho maioridade, como você também e já podemos ficar juntos, nos casar, ter filhos, Oli, [...] você é tudo para mim, que me adiantaria toda essa fuga e busca pela vida, se no final de tudo eu não te teria. Como você deve ter percebido mudamos novamente de cidade, papai se uniu a outros de nós e formou uma aliança de agricultores, com o pouco que juntamos no outro emprego de papai, compramos um pedaço de terra. Sim, o clima e a cultura que se cultiva aqui é diferente da de minha terra natal, mas creio que isso não irá se transformar em uma dificuldade [...]”

Termanente,

Adela.



Part.4


Berlin, 28 de setembro de 1943

Adela,

Tive que fechar duas lojas de meu pai, e vender metade de uma a um antigo conhecido de mamãe, Louis J. Kechat, Ele tem uma filha Joanne, ela que herdara tudo o que é de seu pai, e o nosso casamento seria conveniente, mas não é essa a minha vontade. Meu coração é só seu, eu lhe dei no dia em que você me salvou. Eu iria morrer afogado, pois pelo tanto que eu tinha bebido, mas, eu não me esquecera do seu jeito, e durante dias só o seu rosto branco, sua boca rosada e seus olhos castanhos que faziam uma perfeita combinação com seus cabelos escuros, me via na mente, até o momento em que eu te reencontrei “[...] E eu só pude te agradecer por ter se jogado no rio Spree, naquela noite fria, para salvar um desconhecido que ali estava a se afogar”.

Dê lembranças ao seu pai.

Oliver


Wichita, 05 de outubro de 1943

Mr. Jonh Stoclken,

“Meu amado Oli, nada mais me angustiou que sua ultima carta. Como você pode pensar em casamento com uma pessoa que não seja eu? Diga-me como você pode pensar em tal coisa? Sei que os negócios de sua família são importantes, mas quando você tiver aqui na America, nada vai valer seus negócios ai em Berlin, suas posses [...] Papai e eu, conhecemos novas pessoas, as pessoas aqui são muitos hospitaleiras e não fazem muitas perguntas. Os negócios de papai prosperavam em Memphis, mas decidimos nos mudar para Wichita (no Kansas), porque lá há mais acesso a sementes e adubos. Nós viemos para cá dia 02. [...]. Tenho novas amigas Claire e Lenne, não são de nosso povo, mas elas nos compreendem divinamente bem. Elas até me apresentaram novas pessoas [...]. Agora sim posso me sentir feliz, em exceção nos muitos momentos em que penso que você a cada dia que passa está mais distante de mim. Queria poder retornar no momento em que te salvei e te tive em meios braços, em um momento que eu era dona de sua vida e de seu destino.”

Sua sempre sua,

 Adela.


Frankfurt, 17 de outubro de 1943

Ad, 

 “[...] Ad, nossos destinos se entrelaçaram, e esse elo não será desfeito [...] Fico feliz que você esteja se adaptando a sua nova vida. Eu já me acostumei em só te ver em meus sonhos. [...] Os negócios de minha família são sim importantes, como que eu posso desamparar mamãe? E, contudo, os negócios estão se ajeitando graças ao capital de meu sócio. Aproveitei a minha viagem a Frankfurt an Main para lhe mandar um cartão postal, lembra que você tinha admiração pela vista do alto da cidade, e da ponte que corta o rio Meno. [...] Também fico feliz que o negocio de vosso pai tenham prosperado, tenho por ele grande admiração.”

Termanente, 

Oli 

Ps. Segue anexo, o cartão postal 


Part.5


Wichita, 28 de outubro de 1943

Amado Oli,

“Você me conhece como ninguém, quando vi o cartão postal que me enviara, me lembrei da noite que ficamos juntos, seu corpo junto ao meu, nossos corações batendo juntos [...]. Oli, também fico feliz com sua felicidade, e espero que sua viagem a Frankfurt tenha sido proveitosa aos seus negócios. Decidi fazer um curso, para ajudar papai nas despesas, não que as coisas não estejam bem, mas para que eu me sinta útil. Começo esse curso dia 1º de novembro de 1943, estou ansiosa. [...] Entendo quando você fala que não pode abandonar tudo ai, para vir até mim, ainda são tempos nebulosos na Europa, principalmente na Alemanha. Mas um lado, egoísta meu, te quer aqui. [...] Eu, minhas amigas e alguns amigos delas, saímos para dançar, o clima aqui é bem quente comparado ao dessa época na Alemanha [...] Conheci Peter, e ele tem sido um bom amigo, ele é de meu povo.”

Aguardando-te, como sempre, 

Adela.


Alsleben, distrito de Saxônia- Anhalt, Alemanha; 1º de dezembro de 1943

Minha Adela, 

“Estou em um povoado bem ao norte de Berlim, estou na cidade natal de Joanne Kechat, filha de meu sócio, onde seus parentes residem [...] Não vi outra forma de lhe comunicar isso e também não tinha coragem, me envolvi com Joanne, fomos a opera e restaurantes algumas vezes, e decidimos noivar. Viemos eu e mamãe, a casa de seus parentes, onde devemos oficializar nossa união e marcar a data de nosso casamento [...]. Mamãe está eufórica [...]. Tudo aconteceu de uma forma que eu não tive noção da imensidão de tudo, quando vi o circo já tinha sido armado, não a quero, mas não há mais volta. [...] Me perdoe por todo sofrimento que posso vir-lhe causar com essa noticia, mas lembre-se de , que quando em meus braços ela tiver, é você que eu estarei vendo e sentindo, quando eu olhar em seus olhos, não verei a alma dela e sim a sua, quando eu olhar nossos filhos, eu verei os filhos que eu poderia ter tido com você, mas quando meu coração a ver, irá ver ela, não você [...] mas, nunca eu a amarei. Não se ama duas vezes na vida. Todo o amor que eu tinha eu só sube lhe dar [...]

Que eu morra com o amor que sinto somente por ti, toda felicidade do mundo lhe desejo,

Oliver


Part.6



Wichita, 30 de março de 1944

Oliver Lenhard Gies

“Eu ainda não me acostumei a não te chamar de meu, meu Oli [...] Sei que faz bastante tempo desde a sua ultima carta, mas eu não tinha palavras para serem postas no papel, cada vez que eu relia a sua carta, eu emudecia. Sonhei tantas noites que você viria a meu encontro, que você desistiria de tudo, que você deixaria tudo para trás e me pertenceria. Mas, eu já sabia a distância te roubaria de mim. Desde que nós nos despedimos em Berlin, [...] Por todo esse tempo decorrido, seu casamento já deve ter acontecido, e você já deve ser um homem casado. Você não é mais meu, mas eu, meu amor, continuo sua. [...] Peter, vem me fazendo companhia, mas ele nunca me perguntou o motivo de minha tristeza e indiferença. Peter me quer muito bem [...] Não consigo ter raiva de você, muito menos ódio, indiferença, rancor, nada disso: meu amor por você supera tudo isso. [...] Papai não sabe de nada. [...] Em breve mudarei de cidade.

Ainda me pego assinando seu sobrenome, [...]

Talvez o seu maior segredo, sua sempre

Adela Suzane Finkler



Berlin, 10 de abril de 1944

Querida Adela,

“Sim, eu já me casei, me casei no dia 23 de março. Foi um casamento grandioso, com 200 convidados, e com toda popa e alegoria [...] Eu hesitei em muito lhe responder, mas não me contive [...] Quero que reste alguma coisa do que nós vivemos, sei que não tenho o direito se sentir ciúmes de você, mas não me agrada esse seu relacionamento [...] Mas você não é mais minha. Dói-me muito escrever isso.

Eternamente, 

Seu Oli.


Salt Lake City, 20 de abril de 1946

Oliver

“Já faz mais de um ano desde a sua ultima carta [...] A Guerra acabou, e eu não ia ser mais perseguida, nem eu nem meu povo. [...] A esse ponto, minha vida seria diferente do que ela é hoje. Mas a gente não controla nosso destino. Quero continuar me correspondendo com você [...] Me casei, e estou grávida [...] Não amo Peter, mas acho que um dia eu poderei dizer a ele, pelo ao menos que eu sinto uma paixão por ele, não somente uma gratidão e um bem-quere.”

Espero que esteja com saúde, 

Adela Suzane Finkler Thompsons.




Adela e Oliver se corresponderam, até a morte prematura de Adela no parto de seu segundo filho, Harris.
Oliver morreu aos 81 anos, deixando um grande patrimônio aos seus filhos, Olga e Levis.
Em vida Oliver expandiu seus negocio a America, onde enviara seus dois filhos. Dois anos após a chegada destes, Olga conheceu um fazendeiro de 24 anos, de mãe judia, de Utah.
Dias antes de seu pai falecer, Olga voltou à Alemanha, e levou seus filhos Benjamim e Adela para que seu pai os conhecesse.
Oliver morreu olhando nos olhos de sua neta Adela, era os mesmos olhos que um dia os salvaram da morte, eram os mesmos olhos de sua amada Adela, falecida há tantos anos atrás. E Oliver, teve a certeza que a descendência dele era a mesma descendência de Adela, e de algum modo os dois juntos de tornaram um só